A Polícia Militar do Estado do Acre decidiu expulsar o 3º sargento Erisson de Melo Nery da instituição “à bem da disciplina”. O ex-militar responde criminalmente pela morte de um adolescente de 13 anos em 2017 e, também, por ter atirado contra um estudante durante uma briga em um bar de Epitaciolândia. A exclusão foi publicada nesta quinta-feira (9), mas tem efeito retroativo a partir de 26 de janeiro.
A PM entendeu que o militar feriu a conduta ao atirar no estudante Flávio Endres durante uma briga em 2021 em uma casa noturna no interior do Acre. Os dois processos contra Nery ainda não foram julgados, e ele segue preso no Batalhão de Operações Especiais (Bope).
Nery ficou nacionalmente conhecido após assumir um trisal com outras duas mulheres, em 2021. À época, eles criaram um perfil nas redes sociais para compartilhar o dia a dia.
A decisão de expulsar o sargento da Polícia Militar, segundo o decreto, é baseada na lei complementar nº 164/2006, que rege o Estatuto dos Militares do Estado do Acre.
“Considerando que o policial militar foi submetido à junta de inspeção de saúde, resolve excluir, à bem da disciplina, o 3º SGT PM RG 4058 Erisson de Melo Nery das fileiras da Polícia Militar do Estado do Acre”, destaca a decisão assinada pelo comandante-geral da PM, Luciano Dias Fonseca.
A exclusão acarreta a perda de seu grau hierárquico e não o isenta das indenizações dos prejuízos causados à Fazenda Nacional ou a terceiros, nem das pensões decorrentes de sentença judicial. O g1 entrou em contato com a defesa de Nery e aguarda retorno.
Imagem da PM
O coronel Rômulo Modesto, corregedor-geral da Polícia Militar, explica que a expulsão de Nery foi porque a atitude dele, de repercussão nacional, manchou o nome da instituição. Destacou ainda que essa é uma decisão administrativa dentro do preconiza o estatuto militar e que é independente do processo que ele responde na esfera criminal do Judiciário.
“Foi notório que houve uma situação envolvendo o policial militar em uma casa noturna na cidade de Epitaciolândia, e isso tomou uma proporção a nível nacional”, afirmou o corregedor.
“Houve, obviamente, medidas criminais que foram adotadas naquele momento, e o Comando da Corporação, vendo que a imagem institucional foi maculada naquele momento pelo policial militar de folga, optou pela abertura do conselho de disciplina, que serve para julgar a condição do militar de permanecer nas fileiras da corporação”, disse.
Três oficiais presidiram a análise que durou todo o ano de 2022. Após isso, o relatório foi submetido ao Comando Geral da corporação, que homologou a decisão do conselho, que decidiu pela exclusão do militar.
A partir de agora, o fardamento, a carteira funcional e outros objetos devem ser recolhidos, e o militar deve sair da folha de pagamento do estado.
“É um processo demorado, porque temos que primar pela condição de defesa desse policial militar acusado, então o direito ao contraditório e ampla defesa deve ser observado”, destaca o corregedor.
Modesto também lamentou a decisão, mas disse que é uma forma de mostrar à população que a PM cumpre o que estabelece o estatuto.
“Difícil tomar essa atitude de exclusão, mas a corporação tem que zelar pelo nome da instituição e, nessa vertente, os policiais que compuseram o conselho acharam por bem assim, tendo em vista que o bem maior é a imagem da instituição”, finaliza o coronel.
Decisão ilegal, diz defesa
O advogado de defesa do militar, Matheus Moura, disse que vai levar a decisão da PM para o Judiciário, uma vez que a considera ilegal.
“Trata-se de exclusão totalmente ilegal, a qual há vício em seu núcleo. Ressalta-se que o sargento Nery sequer passou por inspeção médica de saúde para a sua dispensa (como se fosse exame demissional). Dessa forma, há ilegalidade formal e material nessa decisão de exclusão, a qual hoje [quinta, 9] ainda será levado ao Poder Judiciário para ser sanado essa decisão teratológica. Como pode um trabalhador ser excluído sem ter passado por uma inspeção médica?!”, questionou.
Moura destacou ainda que foi pego de surpresa com a decisão e acredita que a Justiça deve revertê-la. “Hoje, o sargento Nery possui inúmeros problemas psíquicos, faz uso de medicação contínua, e está sendo acompanhado por médico psiquiatra e psicólogo devidamente autorizados pela magistrada.”
Conhecido por trisal
A história de Nery teve grande repercussão em junho de 2021, quando ele assumiu viver um trisal ao lado da também policial militar Alda Nery e da administradora Darlene Oliveira. Os três chegaram a criar um perfil nas redes sociais para compartilhar o dia a dia.
“Como a gente gosta dela e ela gosta da gente, íamos sair e dizer que ela é o que nossa? Minha amiga, minha prima? E as pessoas viriam dar em cima dela, e a gente ia ficar com a cara mexendo? Então, se gostamos o suficiente para estar com ela, tem que gostar para assumir para a sociedade, porque ela nunca foi só sexo”, explicou Alda na época.
Cinco meses depois, o trisal estava no bar quando iniciou a briga, e o sargento acabou atirando no estudante. Na época, Nery chegou a falar que agrediu e atirou em Flávio Endres, porque ele tinha assediado Alda.