A denúncia contra a patrulha chegou às autoridades na quarta-feira passada, quando o grupo estava na favela do Sol Nascente. Na abordagem, a luz vermelha das viaturas ilumina um homem fardado levantando um aparelho de som que toca música gospel. Enquanto os pastores fantasiados cantam, os jovens abordados mantêm a cabeça baixa, como quem espera a revista policial.
O presidente da comissão, Fábio Felix, deputado distrital pelo PSOL, afirma que as ações se aproximam mais de “violência, coação e constrangimento” do que de uma ação evangelizadora. “Eles simulam ser uma força do estado para abordar pessoas em situação de extrema vulnerabilidade. Isso no mínimo serve para confundir as pessoas, que imaginam que eles são militares de verdade”, ele me disse.
Vídeos publicados na página do grupo e em redes sociais mostram os integrantes da patrulha fazendo treinamentos de defesa pessoal e artes marciais. Antes e depois, há orações e hinos religiosos. O pastor que lidera o grupo, Gilmar Bezerra Campos, jura que o grupo nunca aplicou as técnicas de autodefesa contra moradores de rua.
A Comissão de Direitos Humanos, porém, apurou que os agentes “realizariam ações de violência contra pessoas em situação de rua, constrangendo-as e, em alguns casos, levando de forma forçada para internação em comunidades terapêuticas para tratamento de pessoas que usam drogas”.
‘Estamos fazendo o trabalho deles’
O pastor Bezerra, comandante do “batalhão”, é ligado à Assembleia de Deus do Guará, uma das unidades administrativas do Distrito Federal. Ele afirma liderar um grupo de 103 membros, com cerca de 40 pessoas ativas que se revezam em escala de plantão, tal qual uma força policial. Segundo seu líder, a tropa contém fiéis de várias denominações evangélicas.
Bezerra me disse ter comprado três “viaturas” com dinheiro do próprio bolso após vender uma pizzaria. A quarta, afirmou, foi doada por um supermercado de Ceilândia, uma das localidades mais pobres do Distrito Federal. São veículos comumente encontrados na frota de PMs brasileiras: três peruas Blazer, da Chevrolet (também usadas pela Rota, de São Paulo), e um Siena, modelo médio da Fiat. O grupo ainda dispõe de quatro motocicletas. Os custos de manutenção e combustível, me garantiu o pastor, são feitos por doações de fiéis. Pedi que me apresentasse recibos, que ele disse não ter por se tratar de pagamentos informais.